sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Acompanhavam-No os Doze e algumas mulheres

Desde o início da missão de Cristo, a mulher demonstra para com Ele e para com o Seu ministério uma sensibilidade especial, que corresponde a uma característica da sua feminilidade. Convém referir igualmente que tal é particularmente confirmado face ao mistério pascal, não só no momento da cruz, mas também na manhã da ressurreição. As mulheres são as primeiras junto à sepultura. São as primeiras a encontrá-la vazia. São as primeiras a ouvir: «Não está aqui, ressuscitou como tinha dito» (Mt 28, 6). São as primeiras a abraçar-Lhe os pés (Mt 28, 9). São também as primeiras a ser chamadas a anunciar esta verdade aos apóstolos (Mt 28, 1-10; Lc 24, 8-11).

O evangelho de João (cf. também Mc 16, 9) coloca em destaque a função particular de Maria Madalena, que é a primeira a encontrar Cristo ressuscitado. [...] Por isso, é conhecida também como a «apóstola dos apóstolos». Maria Madalena foi testemunha ocular do Cristo ressuscitado antes dos apóstolos e, por essa razão, foi também a primeira a dar testemunho diante dos apóstolos.

Este acontecimento coroa, em certo sentido, tudo quanto foi precedentemente dito sobre o facto de Cristo confiar as verdades divinas às mulheres, em pé de igualdade com os homens. Pode-se dizer que assim se cumpriram as palavras do profeta: «Derramarei o Meu Espírito sobre todo o homem e tornar-se-ão profetas os vossos filhos e as vossas filhas» (Jl 3, 1). Cinquenta dias depois da ressurreição de Cristo, estas palavras são novamente confirmadas no cenáculo de Jerusalém, durante a vinda do Espírito Santo Paráclito (At 2, 17). Tudo o que se disse até aqui sobre o comportamento de Cristo em relação às mulheres confirma e esclarece, no Espírito Santo, a verdade sobre a igualdade dos dois, homem e mulher.

Papa João Paulo II
Mulieris Dignitatem, § 16 (trad. © copyright Libreria Editrice Vaticana)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Eis a tua mãe!

Mulher, eis o teu filho! «Eis a tua mãe!» Com que direito passa o discípulo que Jesus amava a ser filho da Mãe do Senhor? Com que direito é Ela sua Mãe? É que Aquela que trouxera ao mundo, então de forma indolor, a causa da salvação de todos, ao dar à luz na carne o Deus feito homem, é com enorme dor que agora dá à luz, de pé junto à cruz.

Na hora da Sua paixão, o Senhor tinha comparado os Seus apóstolos a uma mulher que dá à luz, ao dizer: «A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz o menino, já se não lembra da aflição, pela alegria de ter vindo ao mundo um homem» (Jo 16, 21). Quanto mais compararia tal Filho tal Mãe - essa Mãe que esteve de pé junto à cruz - a uma mulher que dá à luz! Comparar? Mas Ela é verdadeiramente mulher e verdadeiramente mãe e, nesta hora, tem verdadeiras dores de parto. Ela não tinha sofrido as dores do parto como as outras mulheres quando lhe nascera o Filho; é agora que as sofre, que é crucificada, que sente a tristeza de quem dá à luz porque chegou a sua hora (cf Jo 13, 1; 17, 1). [...]

Quando tiver passado esta hora, quando esta espada de dor tiver trespassado por completo a sua alma que dá à luz (Lc 2, 35), também Ela já se não lembrará da aflição, pela alegria de ter vindo ao mundo um homem, o homem novo, que renova todo o género humano e reina sem fim sobre o mundo inteiro, verdadeiramente nascido, ultrapassado todo o sofrimento, imortal, primogénito de entre os mortos. Tendo assim trazido ao mundo a salvação de todos nós na paixão de seu único Filho, a Virgem é claramente a Mãe de todos nós.

Rupert de Deutz (c. 1075-1130), monge beneditino
Comentário sobre o Evangelho de João, 13; PL 169, 789 (a partir da trad. Tournay rev.)

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Natividade de Nossa Senhora

A Natividade de Nossa Senhora é a festa de seu nascimento. É celebrada desde o início do cristianismo, no Oriente. E, no Ocidente, desde o século VII. O profundo significado desta festa é o próprio Filho de Deus, nascido de Maria para ser o nosso Salvador.No seu Sermão do Nascimento da Mãe de Deus, o Pe. António Vieira diz: "Perguntai aos enfermos para que nasce esta Celestial Menina. Dir-vos-ão que nasce para Senhora da Saúde; perguntai aos pobres, dirão que nasce para Senhora dos Remédios; perguntai aos desamparados, dirão que nasce para Senhora do Amparo; perguntai aos desconsolados, dirão que nasce para Senhora da Consolação; perguntai aos tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres; perguntai aos desesperados, dirão que nasce para Senhora da Esperança; os cegos dirão que nasce para Senhora da Luz; os discordes: para Senhora da Paz; os desencaminhados: para Senhora da Guia; os cativos: para Senhora do Livramento; os cercados: para Senhora da Vitória. Dirão os pleiteantes que nasce para Senhora do Bom Despacho; os navegantes: para Senhora da Boa Viagem; os temerosos da sua fortuna: para Senhora do Bom Sucesso; os desconfiados da vida: para Senhora da Boa Morte; os pecadores todos: para Senhora da Graça; e todos os seus devotos: para Senhora da Glória. E se todas estas vozes se unirem em uma só voz (...), dirão que nasce (...) para ser Maria e Mãe de Jesus". (Apud José Leite, S. J., op. cit., Vol. III, p. 33.).

sábado, 5 de setembro de 2009

05 de Setembro dia de Madre Teresa

Agnes Gonxha Bojaxhiu nome de batismo da que ficou mundialmente conhecida por Madre Teresa de Calcutá, nasceu na Albânia (então Macedónia) e tornou-se cidadã indiana, em 1948. Prémio Nobel da Paz em 1979. Oriunda de uma família católica, aos doze anos já estava determinada a ser missionária. Começou por fazer votos na congregação das Irmãs de Nossa Senhora do Loreto, aos 18 anos, na Irlanda, onde viveu. A sua vida na Índia começou como professora. Só ao fim de dez anos sentiu necessidade de criar a congregação das Irmãs da Caridade e dedicar a sua longa vida aos pobres abandonados e mais desprotegidos de Calcutá. Entre as suas prioridades estava matar a fome e ensinar a ler aos "mais pobres entre os pobres", bem como a leprosos, portadores de SIDA e mulheres abandonadas. Depois do Prémio Nobel, em 1979, passou a ser muito conhecida e as Irmãs da Caridade estão em centenas de países do Mundo. O seu exemplo de dedicação sem temer contrair doenças contagiosas, a sua vida exemplar, sempre na sua fé católica deram-lhe, em vida, a certeza de que era santa. Aguarda-se a sua canonização.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O medo do desconhecido em nós

No mundo das relações humanas, a base fundamental é conhecer-se e, conhecendo, estabelecer relacionamentos verdadeiros. Muitas vezes, prevalece o medo de entrar em nosso interior e tomar posse do que realmente somos e cremos, sem criar máscaras de proteção, que escondem nossa verdadeira imagem. A busca de conhecimento do outro, passa necessariamente pelo conhecimento de nós mesmos. O desconhecido em nós, faz com que não tenhamos a força suficiente para ir ao encontro do outro, como somos. Tomar posse do meu eu, para possuir o eu do outro. Anselm Grün, monge escritor alemão afirma: “Quanto mais o medo me leva a evitar um olhar para o meu interior, mais forte torna-se o medo do desconhecido em mim. Jesus fala desse medo do desconhecido quando dirige suas palavras aos doze que escolhera: “Não tenhais medo deles, porque não há nada encoberto que não venha a ser revelado, nem escondido que não venha a ser conhecido. Dizei à luz do dia o que vos digo na escuridão e proclamai de cima dos telhados o que vos digo ao pé do ouvido””(MT 10,26). Certamente, Jesus estava falando aos seus colaboradores em circunstências bem diferentes à nossa, porém, penso que essas palavras podem ser referidas ao medo que existe em nós. A capacidade de parar e encarar o positivo e o negativo que existe em nós, muitas vezes é abafada pelo medo de nos surpreender com uma explosão do que realmente somos. O medo é fruto de uma atitude muito pessimista em relação a nós mesmos. Na medida em que revelamos, a nós, o nosso interior e assumimos a realidade pessoal do jeito que ela é, passamos a viver uma liberdade jamais vivida. Não temos nada a esconder e muito menos a guardar sob sete chaves. A transparência é o espelho da alma que acredita ser o que ela é para conhecer e amar o outro como ele é. Vivemos tão pouco, porque não estabelecer relacionamentos sinceros e verdadeiros sem medo de nós e do outro? Na medida que amo em mim, a riqueza e a pobreza com que Deus me fez, serei capaz de amar a riqueza e a pobreza do outro. “Para Deus nada fica no escuro. Já o Salmo 139, assim se expressa: “ Se eu disser: As trevas, ao menos, vão me envolver e a luz, à minha volta, se fará noite, nem sequer as trevas são bastante escuras para ti, e a noite é tão clara como o dia, tanto faz a luz como as trevas. Pois tu plasmaste meus rins, tu me tecestes no seio de minha mãe. Graças te dou pela maneira espantosa como fui feito tão maravilhosamente”(Sl 139,11-14). A escuridão não é o lugar do afastamento de Deus, mas de sua especial proximidade. Lá ele fala ao meu coração e ilumina tudo em mim com a luz de seu amor. Ele sabe o que existe dentro de mim. Ele o desvenda para mim. Por isso não preciso mais encobri-lo de mim nem dos outros. Tudo o que há em mim é perpassado pela luz de Jesus. O próprio Jesus desceu para esta escuridão a fim de iluminá-la com sua luz”.(Anselm Gün). No caminho da realização pessoal, o passo fundamental para ser feliz está no abandono do medo de nós mesmos, para mergulhar no nosso interior conhecendo o mais profundo de nossos sentimentos e emoções, iluminados pela luz de Jesus. Assim seremos capazes de mergulhar no conhecimento dos outros e estabelecer relacionamentos verdadeiros, sem preconceitos ou julgamentos indevidos. Nossa convivência em casa, no trabalho, no lazer, na comunidade será agradavelmente prazerosa, quando amarmos o que conhecemos em nós, para poder amar o que conhecemos no outro.

Dom Anuar Batistti
Fonte: CNBB

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Honrar a Deus com o coração

“Bem profetizou Isaias a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim” (Marcos 7,1 ss).

Com freqüência escribas e fariseus provocavam disputas com Jesus. Lendo com atenção os evangelhos, nota-se que não era ele a iniciar disputas, mas as tolerava e respondia direta ou indiretamente.O mestre ensinava verdades novas, às vezes inauditas, longe do modo de pensar comum das gentes, dos chefes; verdades desconcertantes para a vida de todo dia. Jesus não pretendia anular os seus adversários, mas as suas respostas eram um pensamento profundo para fazer progredir a reflexão sobre a condição humana, sobre o mistério de Deus.Também desta vez, a disputa diz respeito a comportamento de aparência banal: lavar as mãos antes das refeições. Diz o evangelista Marcos: “Os escribas e fariseus tinham visto que alguns dos discípulos de Jesus comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as terem lavado”. Pode ser a nossos olhos uma coisa simples: boa norma de higiene e boas maneiras, etiqueta social. Mas nos tempos de Jesus, do gesto simples tinham feito um rito religioso com exigência de observância moral. Muitos comportamentos eram considerados em Israel como puros ou impuros; na base da distinção estavam somente tradições humanas, passadas por gerações, com força de lei, e as transgressões tinham peso de pecado. De fato, nas leis provenientes de Moisés, confluíram não somente coisas importantes, por exemplo, os Dez Mandamentos, mas ainda simples normas higiênicas, tradições meramente humanas. Assim para escribas e fariseus o não lavar as mãos antes de comer era falta gravíssima, intolerável, que tornava o homem impuro. À base desses comportamentos, existiam explicações estranhas: o temor e pânico da gente primitiva face às forças da natureza, a persuasão de que no mundo escondiam-se potências tenebrosas e hostis, que era necessário neutralizar com ritos e magias. Assim existiam objetos impuros a evitar, plantas impuras, animais impuros; ai de quem as tocasse, ai de quem delas se servisse para nutrir-se.Surgia uma religiosidade falsa, feita de observações minuciosas, uma vida conduzida de cabeça para baixa, sempre no temor de enganar-se, com medo de cair na hostilidade de forças misteriosas.Tudo isso estava longe do clima sereno e confiante da Aliança. No livro do Deuteronômio 4, 1 e ss, “Moisés falou ao povo: ouvi as leis e os decretos que eu vos ensino a cumprir. ... Nada acrescenteis, nada tireis à palavra que vos digo”. À base da Aliança estava a amizade com o Senhor, a alegria de sentir-se por ele amado, de ter dele a confiança de uma missão a realizar na história, compreendida a promessa de um Messias redentor. Jesus via na polêmica com escribas e fariseus a diferença entre o projeto de Deus e o modo como a gente acabava por viver. Por isso disse o Senhor: “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim”. Os lábios são símbolo do exterior, das palavras ocas e medrosas.O coração por sua vez: uma realidade complexa. É pequenino, mas carregado de significados espirituais, afetivos. Sentimos o coração como sede do eu profundo, da identidade da pessoa, onde alguém se mede com os outros, com Deus, em relação de amor, ou de recusa do amor. Onde amadurecem as escolhas importantes sobre a vida, onde são tomadas as decisões fundamentais para o nosso destino. Jesus contrapõe os lábios e o coração, isto é, a exterioridade do lavar as mãos e os pratos e copos, porque se temem conseqüências negativas, mágicas, pavorosas, e a interioridade das pessoas que na luz de Deus se amam, se respeitam e se ajudam, se empenham pela vida e pela morte. Já o profeta Samuel advertia: “O homem olha a aparência, o Senhor olha o coração”(1 Samuel 16,7). Mas o coração do homem é cheio de ambigüidade, capaz de generosidade sem limites, mas também de baixeza e vileza. Victor Hugo escreveu: “De todas as coisas que Deus fez, o coração humano é a que traz mais luz e também mais trevas”.

Cardeal Geraldo Majella Agnello
Fonte: CNBB

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